domingo, 4 de julho de 2010



Universo tecnológico não é mistério para crianças
Filhos dão ‘banho’ em muitos pais no domínio de aparelhos como o iPhone

Juliana Pronunciati - Repórter

Desde que nasceu, Lucas Prata Bonnas, de 6 anos, vive cercado pelas inovações tecnológicas. O uso de computador, celular e videogame faz parte da rotina da família, o que contribuiu para que, aos 4 anos, o menino começasse a se interessar por esses aparelhos. Hoje, Lucas sabe ligar o computador, acessar sites de jogos e de conteúdo infantil, jogar videogame e utilizar o iPhone dos pais.

O pai do garoto, o empresário Rogério Bonnas, diz que o aprendizado foi acontecendo de forma natural. “O Lucas aprendeu tudo sozinho. Sempre tivemos estes aparelhos em casa, mas nunca o incentivamos a utilizá-los. Hoje ele mexe mais no iPhone do que minha esposa, entra nos jogos e até baixa aplicativos”, disse.

A irmã Luana Prata Bonnas, de 4 anos, segue o mesmo caminho. Ela já tem certo domínio sobre o iPhone, em que o atrativo principal são os jogos, já avança nas fases e sabe baixá-los. Quando os pais chegam em casa, o aparelho logo vai parar nas mãos das crianças.

Para Rogério Bonnas, o perfil dos filhos é justificado pela modelo de sociedade atual, em que o acesso às tecnologias é cada vez mais fácil e as inovações são parte do dia a dia dos pequenos. “Hoje a tecnologia é muito natural para as crianças. Elas nascem e já têm tudo isso na frente delas. É como brincar de bolinha de gude no passado.”

Apesar de considerar positivo o fato de o filho ter afinidade com as tecnologias, o empresário disse que impõe algumas restrições quanto ao horário de uso delas. “Ele só pode usar aos fins de semana, em horários em que a mãe dele e eu determinamos”, afirmou.

Aprendizagem precoce pode facilitar a vida no futuro

Beto Oliveira

Diego Tannús, de 5 anos, já sabe utilizar computador, videogame e celular

A auxiliar administrativo Adriana Macedo Tannús Barcelos analisa a intimidade das crianças com as tecnologias como um fator positivo para a vida futura desta geração. Para o filho dela, Diego Tannús Barcellos, de 5 anos, computadores, celulares e videogames não são novidade. Segundo a mãe, o interesse do menino pelos equipamentos começou a surgir quando ele tinha 2 anos de idade.

“Ele pegava o celular e já queria jogar. No início, eu tentava brecar mais o acesso dele aos jogos, mas os tios e avós deixavam, então ele foi aprendendo. Hoje acho bom ele conhecer as tecnologias, pois não vai ter a dificuldade que eu tive para aprender, já que não me interessava, não gostava e o acesso não era tão fácil”, disse.

Jogos

De acordo com Adriana Barcelos, o filho liga o computador sozinho e sabe entrar nos jogos, mas é com o videogame e o celular que o menino tem mais afinidade. “Ele gosta dos jogos de futebol. Se deixar, ele joga o dia inteiro, mas em casa só pode usar aos fins de semana.”

Geração é marcada por mudanças de característas

De acordo com a psicóloga Maria Carolina Rodrigues Tomé, que é assessora pedagógica em um colégio particular em Uberlândia, as crianças da geração atual têm características próprias, se comparadas àquelas nascidas em décadas anteriores.

“São crianças, em princípio, mais questionadoras, críticas e dinâmicas, que nasceram em uma época de estabilidade econômica e de grandes avanços tecnológicos. Também são multitarefas, ou seja, conseguem realizar várias atividades ao mesmo tempo”, afirmou.

Por outro lado, segundo a psicóloga, as crianças de hoje costumam ser imediatistas e têm dificuldade em lidar com frustrações.

Segundo Maria Carolina, nesse contexto, é preciso que as escolas modifiquem os métodos de ensino para não ficarem aquém das necessidades dessa geração. “As aulas têm que ser mais interessantes. Essas crianças têm que, de alguma forma, interagir com a aula, participar, ou seja, ser protagonistas disso tudo. E isso é bom para a escola, pois instiga os professores a elaborar um conteúdo mais atrativo”, disse.

Ética e valores humanos não podem ser esquecidos

Para a psicóloga e assessora pedagógica Maria Carolina Rodrigues Tomé, um dos grandes desafios para a escola diante da geração de crianças acostumadas com as tecnologias é não perder de vista a responsabilidade de formar pessoas conscientes e com valores baseados na ética.

“Mesmo diante de uma geração que insiste no imediatismo e individualismo, a escola deve proporcionar atividades que estimulam as relações humanas mais profundas e valores e princípios coerentes.” Ainda segundo a psicóloga, as discussões sobre valores, ética e relações interpessoais também são necessários para uma geração que vive o mundo no virtual, que tem laços familiares mais escassos de irmãos e primos e que, na maioria das vezes, possui laços de afeto superficiais e frágeis

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